ESTRANHAMENTO, DUPLO E MISE EN ABYME NA OBRA A CIDADE SITIADA, DE CLARICE LISPECTOR

Raquel Oguri

Resumo


O presente artigo aborda três questões inerentes ao terceiro romance de Clarice Lispector, A cidade sitiada, uma obra de natureza autorreflexiva, em que a personagem principal, Lucrécia Neves é narrada por uma série de espelhamentos, duplicações e vertigens. A primeira questão é a forma de arquitetar A cidade sitiada como a possibilidade de um mundo em mise en abyme, sustentado por múltiplos espelhos e duplos dentro da obra. A segunda parte trata do aspecto do estranhamento e do estranho presentes na vida da autora, mais especificamente durante a criação do livro, e como se dá o reflexo ou o espelhamento na obra. O terceiro ponto aborda o estranhamento por um outro viés, no sentido do olhar da crítica sobre a obra. A ideia do texto é oferecer uma hipótese de leitura do romance A cidade sitiada, com o intuito de gerar novas reflexões sobre uma obra importante ainda situada à margem. Tal hipótese (ou chave) de leitura se baseia, principalmente, no conceito de André Gide, autor que introduziu pela primeira vez o termo abyme, emprestado da heráldica (ou estudo de brasões), sugerindo um modelo formal para os seus romances, em que “a comparação com o procedimento do brasão consiste em, dentro do primeiro, colocar um segundo en abyme” (GIDE, 1948, p. 41).

Palavras-chave


estranhamento; autorreflexividade; mise en abyme; espelhos; arquitetura clariciana.

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REVISTA ELETRÔNICA FALAS BREVES. BREVES - PA, ISSN 23581069